Periquitos são coloridos, barulhentos e pássaros nativos de áreas subtropicais da América do Sul.
Mas quem visita Madrid se depara, em muitos lugares, com um enorme número dessas aves no topo de árvores.
Mas como elas foram parar na capital da Espanha?
Na década de 70, os pássaros foram importados da Argentina (só em 2011 a posse de espécies invasoras foi proibida no país europeu).
No Brasil, os periquitos-monge (Myiopsitta monachus) são conhecidos como cocota ou catorra.
Na capital espanhola, eles se proliferaram de maneira espantosa.
Não se sabe se fugiram de seus cativeiros ou foram soltos de forma intencional.
A única certeza que se tem é que atualmente há uma superpopulação dessas aves em Madrid.
Em 2005, eram cerca de 1.700 mil periquitos. Onze anos depois, o número pulou para 9 mil.
Hoje são aproximadamente 12 mil, de acordo com a Sociedade Espanhola de Ornitologia.
Nos últimos três anos, houve um crescimento de 33% na população da ‘cotorra argentina’ (nome em espanhol).
Para conter o aumento ainda maior delas, a prefeitura de Madrid anunciou que irá abater parte das aves e esterilizar seus ovos.
A decisão polêmica conta com o apoio dos moradores da cidade, que reclamam da infestação.
“Vamos implementar um plano para o controle e redução das cotorras em Madri, uma vez que elas se tornaram uma preocupação para os cidadãos e recebemos muitas reclamações”, afirma Borja Carabante, secretário de Meio Ambiente e Mobilidade.
Por ser uma espécie exótica invasora, as aves têm um impacto negativo sobre a biodiversidade local, competindo por alimentos com outros animais.
Segundo Carabante, elas possuem ainda atividade predatória e provocam danos a hastes e brotos de vegetação, usados para a fabricação de seus ninhos.
Às vezes, com o passar do tempo, esses ninhos se tornam perigosos, pois podem atingir um peso de até 200 quilos, o que representa um risco para os galhos que os sustentam e, como consequência, para quem anda pelas ruas.
A prefeitura alega ainda que os periquitos podem transmitir doenças para seres humanos e outras espécies de pássaros.
A ameaça das espécies invasoras
Em 2017, escrevi outra matéria relatando a história de uma espécie que foi ‘exportada’ de seu habitat original e o resultado também foi desastroso.
Com o título Um é invasor, outro é nativo. Adivinha quem está ganhando a batalha?, contei como o esquilo cinza, originário do Canadá e Estados Unidos, foi levado para o Reino Unido por volta de 1800. Ele se alastrou de tal forma, que é considerado uma praga, levando à extinção o esquilo vermelho, nativo da Europa.
São mais de 3,5 milhões de esquilos cinzas espalhados ao norte do Reino Unido, entre áreas da Inglaterra e Escócia. Já dos vermelhos sobram apenas 140 mil.
Para garantir que a espécie nativa não desapareça, são realizadas diversas campanhas, que estimulam, inclusive, a morte dos invasores, já considerados “uma infestação”.
Há dois anos, uma delas, promovida pelo Wildlife Trust, órgão responsável pela proteção da vida selvagem no Reino Unido, fez um censo dos esquilos vermelhos e ensinou a população a como matar os invasores.
Apesar de cruel, biólogos afirmam ser esta a melhor solução.
Testes comprovaram que áreas onde os cinzas dominavam antes, foram repovoadas pelos vermelhos, depois que os primeiros foram retirados.
Os invasores de Fernando de Noronha
No Brasil, também há uma história similar à britânica.
Para tentar controlar a população numerosa de ratos e camundogos na ilha de Fernando de Noronha, “importados” ali provavelmente pelos navios colonizadores, na década de 60, decidiu-se introduzir no local um tipo de lagarto: o teju, que seria um predador para os roedores.
Acontece que as duas espécies têm hábitos diferentes.
Os ratos são animais noturnos e os lagartos, diurnos.
Como nunca se encontravam, Fernando de Noronha passou a ter dois invasores para combater.
Nos últimos anos, entretanto, é realizado um sério trabalho para tentar controlar o réptil e assim, diminuir o número de indivíduos no local.
Fotos: domínio público/pixabay (abertura e esquilos) e wikimedia (teju)
Fonte: Suzana Camargo /Conexão Planeta